Não é algo raro de se ver no cotidiano, a confusão que as pessoas fazem com os termos: Ética e Moral, chegando até mesmo a confundi-los como sinônimos. É claro que esse autor não tem a intenção de ironizá-las nem de esgotar a discussão sobre esses termos que já dura mais de dois milênios na história da Filosofia. O mesmo pretende realizar uma breve e simples abordagem sobre tal problemática milenar sobre a Ética e explicar o que Raul Seixas tem a ver com a Ética.
Quando se fala em Ética é necessário considerar o sentido etimológico da palavra. Há duas formas de grafá-las em grego: "éthos" que refere_se ao comportamento que resulta de uma repetição constante dos mesmos hábitos, ou seja, ao costume, assim, daqui, se resulta o significado da palavra moral que é tido como o conjunto de regras de conduta assumidas livre e conscientemente pelos indivíduos, com o objetivo de organizar as relações interpessoais segundo os valores do bem e do mal (Aranha e Martins, 2005, p.218).
Na outra forma; "êthos" designa o caráter, modo de ser do homem, o que permite a ética ser mais do que um reflexão contemplativa e passar a ser o substrato da moralidade do sujeito, isto é, a ética passa a ser um exercício criativo de construir e reconstruir o modo de ser.
Se a moral representa os anseios tradicionais de uma determinada sociedade, entre outras inúmeras. Se a moral tende a querer se eternizar, enquanto a ética é um exercício de construir e reconstruir certo modo de ser do existente humano? Se em cada momento histórico, há certo éthos e certo êthos que sobressaem sobre as multiplicidades éticas e morais?
Onde entra Raul Seixas, ou o querido Raulzito nessa problemática referente ao quesito Ética? A música do nosso compositor baiano e do seu parceiro de composição Paulo Coelho chamada: Metamorfose ambulante tem tudo a ver com Ética, se a considerarmos como sinônimo de um debruçar crítico sobre a moral dominante e a partir disso o motor móvel da inventividade, a fecundidade do novo estar humano no mundo.
Raulzito cantava assim: ‘’Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’’. Eu vou desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes... É chato chegar a um objetivo num instante... Se hoje eu te odeio, amanhã lhe tenho amor... Se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou... Eu sou um ator...
Caros e caros, a letra dessa canção é o relato de um indivíduo que ao se atentar aos valores e costumes da moralidade dominante acaba percebendo que os mesmos não correspondem a sua realidade pessoal que sempre se transforma e por isso, torna-se uma pessoa cética, em relação a tudo o que diz respeito ao social, crítica e realiza uma ruptura com o vigente e sempre visa novos modos de ser e de coexistir com os seus semelhantes e de interação com o mundo ao seu redor. Assim a letra dessa canção sintetiza a diferença entre a Ética e a moral. A primeira é o debruçar crítico sobre os valores morais em prol da mudança de comportamento, a segunda é o conjunto de valores e costumes de determinada sociedade que tendem a se eternizar.
Esse autor ao fazer a abordagem da diferença entre a Ética e a Moral, por ser fã do Raul Seixas e ser totalmente contra a moral dominante (burguesa e capitalista) pergunta por que não vivermos numa "metamorfose ambulante” (como Raul Seixas cantava...), ou como Nietzsche postulou e colocarmos a vida como critério avaliador e perguntarmos qual é o papel dos paradigmas morais vigentes?Eles servem para engrandecer a vida? Ou promovem sua decadência?
Não há como negar que a lógica do capital sob a qual vivemos é o mesmo que a irracionalidade destrutiva advinda do império da razão originado no modernismo. Há certo desencantamento no homem contemporâneo por perceber que não é constituído só de razão e por saber que suas ações são pautadas por uma burocracia gritante, o que lhe torna explícito a urgência de sair do casulo da servidão e do caráter competitivo das relações monetárias que norteiam o social e obter um estado além da razão. Mas como lidar consigo mesmo e com o mundo de forma reflexiva e sóbria, de maneira ética?
Max Weber afirma no final do texto A ética protestante e o espírito do capitalismo, a necessidade do surgimento de um novo idealismo para se contrapor a um mundo que além de ''coisificar" o homem, o transformou num ser insensível e calculista. Contraponto que desconfie da razão como principio ordenador da relação homem_mundo. Não há leis universais, nem verdades absolutas, portanto é preciso resgatar o espírito carismático e orientar a vida a partir da desconfiança, sem convicções, comodidades.
É tempo de abandonar nosso ingênuo hedonismo e assumir a ética da responsabilidade promovendo o nirvana, o bem-estar a nós mesmos e aos outros.
Referências:
SEIXAS, RAUL. Metamorfose Ambulante.
ARANHA, M. A; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2003.
NIETZSCHE. Friedrich. Genealogia da Moral. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1967.
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